CAPÍTULOS
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Embora a biblioteca fosse um lugar em que pudesse encontrar sossego, não era o que estava acontecendo. Pelo menos, não hoje. A garota que tinha os olhos diferentes para as demais pessoas ali tentou mais uma vez se concentrar. Sem saber muito bem por onde começar, digitou a primeira coisa que veio à sua cabeça com os dedos ágeis em seu notebook.
Percebendo que daquela forma seu email pareceria melancólico, resolveu apagar e recomeçar. Escreveu mais um par de palavras e as apagou em seguida. deixou um som doce e melancólico, assim como as suas palavras naquela falha tentativa de enviar uma mensagem para a sua família, escapar por entre os seus lábios, demonstrando o quão difícil estava sendo se concentrar ali, naquele lugar. “O que há de errado com essas pessoas?”, pensou. Olhou por todo o ambiente que tanto gostava nos dias normais e tentou encontrar o culpado por toda a bagunça que estava acontecendo, sem sucesso, é claro. Todas as pessoas ali presentes pareciam estar eufóricas e até mesmo a pobre senhora Kim Mi Kyung, bibliotecária responsável pelo local, compartilhava dessa sensação. Respirando fundo, a garota decidiu tentar pela última vez. Não poderia desistir, já que esse e-mail confortaria o coração da sua frágil mãe e acalmaria os nervos do seu pai.
escreveu com um falso ânimo. Não era necessário enfatizar o quanto estava sendo difícil se adaptar num país com a cultura totalmente diferente do seu. Foi ela que havia decidido se aventurar em outras terras e não eles. Seus pais haviam apenas concordado, embora estivessem com seus corações apertados por saber que sua única filha iria para o outro lado do mundo.
Quando colocou na cabeça a ideia de conhecer a Coréia do Sul, sabia que não seria fácil, mas deixou-se levar pela empolgação. Convenceu Deus e o mundo de que era o que queria, que seria a realização de um sonho. De fato, era tudo isso. Ela estava realizando o sonho de conhecer aquele lugar que tinha ares mágicos, mas a sua dúvida era sobre o tempo. Um ano não seria tempo demais? estava com medo de começar a se arrepender.
A garota riu da própria situação. Aquelas palavras eram verdadeiras. Desde que chegou em Seul, capital da Coréia do Sul, se comunicava através do inglês e era grata por não ter desistido do cursinho que começou a fazer anos atrás. O coreano era extremamente difícil do ponto de vista da garota, mas aos poucos, estava conseguindo aprender e até mesmo arriscar algumas pequenas palavras no idioma.
acrescentou uma nota mentalmente dizendo que deveria sair para conhecer mais lugares. A verdade era que só tinha conhecido lugares ao redor da Korea University, universidade que escolheu para estudar durante esse tempo que ficaria no país. E esses lugares se resumiam à própria universidade, às cafeterias próximas e à casa que dividia com a única amiga que tinha feito por ali, Na Hye Mi.
“Vocês não sabem o quanto eu sinto a falta de vocês. Logo estarei em casa novamente, então, fiquem tranquilos. Eu amo vocês.”
Depois de reler todo o e-mail que tinha escrito minutos atrás, finalmente o enviou. “Uma tarefa a menos”, pensou. Sua lista de coisas para fazer só aumentava, fazendo com que a garota pensasse que nunca conseguiria eliminá-la de vez.
- Hey, finalmente encontrei você! – Na Hye Mi se jogou na cadeira vazia ao lado de , assustando a amiga.
- O que houve? – perguntou sem entender. Hye Mi sabia que ela estaria ali, assim como todos os dias naquele horário.
- O diretor está te procurando. Quero dizer, ele está querendo falar com você. - A garota mais velha, Na Hye Mi, abanou-se, devido ao calor, antes de voltar a falar. – Ele me encontrou no corredor do segundo andar e perguntou por você. Disse que era algo importante. – deu de ombros, fingindo não estar curiosa sobre o que era de tão importante assim que o diretor queria falar com a sua amiga.
Embora morasse com Hye Mi há apenas três semanas, a conhecia muito bem e sabia que ela estava se corroendo por dentro, curiosa. E isso a divertia. Demonstrar falta de interesse não era do feitio da garota de cabelos curtos, lisos e negros. Na Hye Mi era uma garota espevitada, alegre e comunicativa.
Para alívio de , foi Hye Mi que puxou conversa no primeiro dia de aula, imaginando o quão difícil estava sendo para a garota estrangeira. Ao saber que estava procurando um lugar para alugar, já que não daria certo ficar em um hotel por causa das despesas altas, ela ofereceu um quarto em sua casa. Agora, as duas moravam juntas no pequeno, porém confortável, apartamento de Na Hye Mi.
- Não vai perguntar? – brincou e a outra garota deu de ombros novamente. – Anda, eu sei que você quer perguntar. – insistiu.
- Não, não vou perguntar. Eu te conheço e você está tão surpresa com essa situação do que eu. – Hye Mi acertou em cheio. não fazia ideia do motivo de o diretor querer falar com ela. – Você já acabou? – ela apontou para o notebook fechado da amiga.
- Já. – respondeu, sorrindo. – O que está acontecendo hoje? – perguntou ao perceber que Hye Mi olhava a movimentação na biblioteca. Perguntou-se mentalmente se agora, movimentada, a biblioteca seria um lugar onde a amiga gastaria seu tempo.
- Em que mundo você vive?! Hoje é o dia do evento da SBS na KU! – Hye Mi anunciou animadamente. – Todos os alunos estão animados sobre isso. É hoje que eles vão anunciar o resultado dos projetos vencedores! Parece que serão escolhido os três melhores e os vencedores poderão estagiar na SBS!
- Ah... – foi tudo o que conseguiu dizer. É claro que ela conhecia a SBS, a empresa responsável pela produção de muitos dos seus doramas favoritos. No entanto, não pôde participar desse projeto e nem tentar uma vaga de estagiária, já que não cursava nenhuma graduação ali. A garota apenas fazia um curso de coreano para estrangeiros e somente no próximo semestre poderia se matricular para alguma graduação. Suspirou.
Sem enrolar mais, pegou o seu notebook e o guardou na bolsa que usava como mochila. Era hora de saber o que o diretor queria falar com ela, para depois matar a curiosidade da sua divertida amiga. Vendo se levantar, Hye Mi a acompanhou, levantando-se também. As duas garotas caminharam até a saída da biblioteca, entre fileiras e mais fileiras de mesas e seus estudantes.
- O que vai fazer mais tarde? Eu estava querendo tanto sair para beber! – Na Hye Mi falou, depois de um tempo.
- Eu não sei. Não consigo pensar em nada, na verdade. – só conseguia pensar em como estava perdendo a oportunidade de estagiar em uma grande empresa e na área profissional que mais a encantava. A garota se via dali a alguns anos como uma excelente roteirista, podendo criar as melhores histórias em que pudesse imaginar.
- Bom, eu encontro você depois. Estarei no auditório... assim que você sair da sala do diretor, me liga! Venho correndo saber da novidade! Fighting!– Na Hye Mi falou, otimista. sorriu, concordando positivamente com a cabeça. Ela sequer podia imaginar como seria seus dias ali se não fosse pela garota de cabelos curtos. Hye Mi era uma amiga e tanto! Mesmo sem conhecer , a garota lhe ofecereu um quarto e uma casa para morar. Mostrou-se disposta a facilitar a adaptação da estrangeira em seu país, tudo de boa vontade. Definitivamente, tinha um coração enorme.
Depois de ver a amiga seguir seu caminho até o auditório, tentou se contagiar pelo otimismo de Hye Mi e caminhou até a sala do diretor da KU. Assustada, rezou para que não fosse nada de ruim, embora não seguisse nenhuma religião ao certo. Seus passos ecoavam por todo o corredor vazio, já que os demais alunos deveriam estar no auditório, esperando o resultado do evento.
E isso só a deixava mais nervosa. Por qual motivo o diretor queria falar com ela? E o que seria tão importante? era apenas uma aluna do curso de línguas da universidade, nada demais. Tudo bem que o diretor a tinha ajudado e muito em seu ingresso na Korea University, mas a garota não tinha feito nada para ter sido chamada à sala do homem. Não tinha nenhum motivo. Pelo menos nenhum que pudesse encontrar em sua confusa cabeça.
- Pode entrar, querida. O diretor está à sua espera. - anunciou a secretária do diretor, assim que viu se aproximar. Nervosa e sem saber o que pensar, só lhe restava o otimismo de Hye Mi para acompanhá-la. Querendo acabar com aquela situação desconfortável, entrou na sala do diretor.
A sala do diretor Choi Do Bin era razoavelmente grande e acolhedora, decorada com diversos móveis de escritório. Em suas paredes estavam presos alguns quadros com retratos de pessoas importantes para a KU. , por alguns segundos, se permitiu desviar a atenção dos três homens que estavam ali, na mesma sala, para os quadros e imaginou se o mais velho retrato representava o fundador da universidade.
- Fico feliz que tenha vindo. – falou o diretor, chamando a atenção da garota. E por que eu não viria falar com ele?, a garota se perguntou. voltou a sua atenção para os homens ali presentes e percebeu que além do diretor, também conhecia um outro. O homem baixinho e careca era o seu professor de coreano na universidade.
Ao constatar a presença do professor ao lado do diretor, sentiu seu coração parar de bater, deixando o seu cérebro sem sangue para trabalhar. Isso não poderia ser uma coisa boa. A garota era quase um fantasma. Não falava com ninguém, já que só falava inglês e muitas pessoas não se davam o trabalho de usar o idioma para falar com ela. Suas notas eram razoáveis e não era uma aluna brilhante. Entretanto, estava feliz consigo mesma e com seu desempenho. Não tinha entrado na universidade para ser a melhor aluna do mundo. Ela só queria aprender.
- Esse é o Kwon Se In, CEO da SBS. – O diretor apontou para um senhor elegante. Rapidamente, curvou seu corpo, cumprimentando-o. Essa foi uma das primeiras coisas que aprendeu aqui e estava feliz por isso. A garota não queria parecer mal educada. – E esse você já conhece. – ele apontou sorrindo para o professor de . – Por favor, sente-se.
sentou em uma das cadeiras vazias em frente à mesa do diretor, enquanto o CEO da SBS sentava-se ao seu lado. O professor permaneceu em pé, ao lado da cadeira do diretor. Com dificuldade, o cérebro de registrava tudo o que estava acontecendo, ao mesmo tempo em que procurava uma resposta para aquela reunião. Mas a garota não conseguia sequer imaginar o motivo de estar ali.
- Eu te chamei aqui , pois o senhor Kwon Se In pediu para conhecê-la. – O diretor falou. Será que havia alguma chance de ser a pessoa certa para estar ali? Eles poderiam ter cometido um engano... Não, definitivamente era ela, embora parecesse impossível. Como um homem importante teria interesse em conhecê-la? Pelo o que ela sabia, só havia uma naquela universidade... e o fato de não parecer fisicamente com nenhum estudante (sem falar nos alunos de diversos países que estudavam com ela na classe de coreano) ou professor da Korea University diminuía as chances em praticamente zero de estar havendo algum engano.
Percebendo a expressão confusa estampada no rosto da aluna, o diretor prosseguiu, a fim de explicar melhor o que estava acontecendo.
- , você se lembra de ter entregue algum trabalho para o professor Park Chul Min?
Que pergunta era aquela?! É claro que a garota tinha entregue algum trabalho para o professor, afinal, isso contribuía para as suas notas. E isso não era uma particularidade na Coréia. No Brasil, em muitos colégios e universidades, era aplicada a mesma forma de avaliação.
- Senhorita , você lembra de um trabalho de tradução que eu passei? Eu pedi à todos os alunos que pegassem qualquer texto em inglês e o traduzissem para o coreano, colocando em prática o que vocês já tinham aprendido em classe. – o professor falou pela primeira vez desde que a garota chegou naquela sala. Ainda sem entender, apenas confirmou com a cabeça. – O seu trabalho foi a tradução de um roteiro... Quero dizer, pelo menos, parte dele. Você se importaria de nos responder se esse roteiro é seu?
buscou em sua mente sobre qual trabalho exatamente o professor estava se referindo e sem muita demora, se recordou. No décimo dia de aula, o homem baixinho havia pedido para que seus alunos traduzissem um texto para o coreano, para que colocassem em prática o que tinham aprendido até aquele dia. Querendo aproveitar a oportunidade, até mesmo para não ter trabalho dobrado, decidiu que começaria a traduzir um roteiro original no qual estava trabalhando e sua meta seria, até final do curso, conseguir traduzi-lo inteiro para o coreano, aproveitando também as correções do professor.
- Sim, é meu. – respondeu, sem saber aonde aquela conversa iria chegar.
- Houve um engano... Na verdade, foi uma falha minha. – o professor se consertou. – O seu roteiro, sem querer, foi enviado junto com os projetos que estavam concorrendo para o estágio da SBS. Um dos juízes achou incrível a sua ideia, o seu roteiro e disse que adoraria conhecê-la, embora seja nítida a sua falta de experiência no assunto...
Ainda que muitos pudessem pensar que ele estava a ofendendo, sabia que o homem não falava por mal. Ela não era nenhuma expert em relação à produção de roteiros. A garota só tinha colocado no papel as suas ideias para o seu primeiro dorama, para quando pudesse se graduar, e então, aprimorar o seu roteiro.
- O senhor Kwon Se In disse ao seu funcionário que primeiro teria a certeza de era um roteiro original, para então saber o que poderiam fazer... E como você disse que é seu e é original... Bem..
- Acontece, senhorita , que temos interesse em treiná-la. – o homem elegante falou, interrompendo o professor. – Você teria interesse de estagiar por três meses na nossa empresa, tendo como mentor um importantíssimo roteirista e diretor? Caso nesses três meses você consiga provar ser capaz de se tornar uma brilhante roteirista, nós a contrataremos definitivamente. Bom, isso será mais pra frente... poderemos discutir os detalhes depois.
Surpresa, abriu e fechou a boca diversas vezes, tentando encontrar uma resposta. É claro que ela não seria louca de negar, o problema era que a garota não conseguia encontrar a sua voz. Aquilo só poderia ser um sonho!
Desistindo de usar a voz, balançou a cabeça concordando com a proposta antes mesmo que o homem pudesse se arrepender.
- Bom, fico feliz. Essa proposta foi um pedido do seu futuro mentor. Ele está ansioso para conhecê-la e poder treiná-la. – Kwon Se In falou, levantando-se da cadeira e arrumando o terno. O homem estendeu a mão para , a fim de selar o acordo. – Em breve entraremos em contato.
E depois disso, tudo aconteceu muito rápido. De repente, já estava do lado de fora da sala do diretor, no corredor, sozinha. Ela mal podia acreditar em tudo o que tinha acontecido. Esse tal mentor só poderia ser alguém muito importante para a empresa para ser atendido assim, diretamente pelo CEO. O que ele viu no roteiro dela, ela não sabia, mas não estava disposta a perder essa oportunidade. E se aquela era a melhor chance de conhecer como as coisas realmente funcionavam, por que não?! só tinha certeza de uma coisa: ela não fazia ideia do que iria acontecer dali pra frente.
Na Hye Mi consultou o relógio do seu celular preocupada. O evento já estava para terminar quando o diretor apareceu para dar as congratulações aos vencedores do concurso. Se ele estava ali, então significava que deveria estar por algum lugar... A garota olhou para trás, procurando entre as pessoas a figura feminina da amiga, sem sucesso. Olhou novamente para o celular, mas não tinha nenhuma mensagem ou ligação de . Hye Mi lembrava perfeitamente de ter dito para a garota ligar para ela quando saísse de sua pequena reunião com o diretor. “O que será que aconteceu?!”, questionou-se preocupada.
Tirada de transe devido às palmas incessantes vindas da platéia do auditório, Hye Mi caminhou por entre as demais pessoas, rumando em direção à saída. Pegou seu aparelho moderno e procurou o nome de na agenda. “Aish...estou enlouquecendo”, sussurrou enquanto esperava que a garota atendesse o seu telefonema.
- Alô? – Na Hye Mi ouviu a voz de soar distante, fraca, do outro lado da linha. Instantaneamente, sua preocupação aumentou, sentindo o coração apertar. Como poderia ter se apegado tão rápido à menina brasileira?!
- Onde você está? – Hye Mi disse, atropelando as palavras. – Qual parte do “Assim que sair da sala do diretor, me liga!” você não entendeu? Eu estou surtando aqui de preocupação!
- Eu estou em frente ao auditório. – sussurrou, como se não encontrasse a sua voz. Sem mesmo se despedir, Hye Mi desligou o telefone e correu até onde a amiga estaria esperando.
Vista de longe, talvez se passaria por uma sul-coreana. Sua estatura baixa e os cabelos lisos e escuros seriam facilmente confundidos, se não fosse pelos grandes e expressivos olhos em seu rosto. Na Hye Mi riu de sua própria análise. Se soubesse que ela definira seus olhos como “grandes e expressivos”, provavelmente ficaria chateada e faria doce, ignorando a amiga até que essa lhe dissesse que faria qualquer coisa para se desculpar. Pois é, isso já tinha acontecido uma vez.
- O que aconteceu? – Hye Mi perguntou, estranhando o quão preocupada ela estava sem necessidade. Talvez não fosse nada grave, já que mal falava ou fazia qualquer outra coisa além de estudar ali. – Anda, me conta! Eu estou quase morrendo de agonia! – insistiu, vendo uma pálida procurar palavras em sua mente.
- Eles... eles... – tentou reorganizar os seus pensamentos. – Eles querem que eu aprenda com eles. – por fim, terminou a frase. Vendo a expressão confusa no rosto de Hye Mi, tentou novamente se expressar, dessa vez com coerência. – O CEO da SBS... quer que eu aprenda com eles. Tipo um estágio...
- Como?! - Na Hye Mi perguntou confusa. Ela não estava entendendo nada, mas mal sabia ela que também não estava. – O que você quer dizer?
- Eles me chamaram... digo, o professor Park Chul Min, o diretor e o tal CEO da SBS...que eu não lembro o nome agora... Parece que um trabalho meu foi entregue por engano aos juízes do concurso do estágio da empresa e alguém gostou muito. E agora querem trabalhar comigo, me treinar. Acho que é isso... – completou confusa. Na cabeça de , nada parecia ter sentido.
- Oh meu deus, isso é ótimo! E por que você está com essa cara de enterro?! Essa não é a oportunidade da sua vida?! – Toda a preocupação de Hye Mi tinha se esvaído de seu corpo, dando lugar apenas ao alívio por nada de ruim ter acontecido.
- Na verdade, eu acredito que tenha havido algum engano. – falou. De repente, essa parecia a solução mais lógica que a garota poderia encontrar. – É, acho que foi isso. – disse, na verdade, tentando convencer mais a si mesma do que a amiga.
- E por que seria um engano? Você por acaso não entregou o tal trabalho que eles falaram? - Na Hye Mi indagou e sussurrou “entreguei” como resposta. - Então não tem engano nenhum! Pelo o que eu saiba e você também, na turma de intercambistas você é a única que se chama !
Definitivamente, Na Hye Mi tinha razão, mas por algum motivo não conseguia acreditar que aquilo poderia ser verdade. Seu lema era sempre manter os pés no chão em qualquer situação, pois assim a queda seria menor.
- Vamos comemorar! – anunciou Hye Mi e não pôde evitar rir. Tudo para a coreana era motivo de comemoração. – Acredite em mim. Se você foi escolhida para isso... digo, para esse estágio, mesmo sem ter participado do concurso propositalmente, é porque tinha que ser você. E tudo o que tem a fazer é se mostrar uma brilhante profissional! – ela abraçou a amiga brasileira. - Acredite no seu potencial! Você pode ser incrível!
Por algum motivo que não sabia explicar, se sentia mais leve. Era incrível o poder de influência que Hye Mi tinha sobre ela. A amiga tinha razão. Tudo o que precisava era acreditar um pouco mais em si mesma, deixar as coisas acontecer e não pensar demais nos motivos. Algumas coisas acontecem sem explicação, apenas porque tem de acontecer.
- Obrigada. – agradeceu .
- Você precisa de ajuda? - Na Hye Mi perguntou ao entrar no quarto de . A garota olhava com uma expressão de dúvida para o seu guarda-roupa.
- Eu só não sei o que preciso levar. Não conheço o lugar... – revelou. Ela não fazia ideia de como seria o lugar para onde ia com a equipe que estava trabalhando há uma semana. Depois da última conversa com Hye Mi, a rotina de mudou completamente. A garota havia sido chamada dias atrás para conhecer o seu “mentor”, um diretor famoso na sua área profissional pela sua ética e criatividade na hora de filmar os seus projetos. Por ele, começaria a estagiar naquele mesmo dia, mas graças ao CEO da empresa, ela pôde respirar e se preparar para o caminho árduo que teria dali pra frente se quisesse ser bem sucedida. Mas essa preparação não durou por muito tempo, já que a garota disse que poderia começar a trabalhar no dia seguinte, para a felicidade do diretor.
Agora, faria a sua primeira viagem à "trabalho", acompanhando as gravações de um drama como uma espécie de assistente pessoal desse mesmo diretor. Quando conversaram no primeiro dia de estágio da garota, o homem a convenceu de que antes de tudo, precisaria ter certeza de que era aquilo que gostaria para a sua carreira. Dessa forma, a melhor forma de começar seria o acompanhar em todos os lugares, aprendendo ao máximo com as situações que isso lhe proporcionaria. E então, nos tempos vagos entre as gravações, eles fariam reuniões e trabalhariam no roteiro da garota, treinando-a finalmente.
- Você vai pra Ilha Jeju, girl! A ilha do amor! – brincou Hye Mi. – Leve o que quiser, só não esqueça das roupas sexies! – a garota riu, assim que foi acertada por um travesseiro lançado por .
- Eu estou falando sério! – seguiu a amiga com o seu olhar e a viu sentar-se na grande cama que tinha ali. – Eu só conheço por fotos...e vídeos. Não faço ideia!
- Ok, eu vou te ajudar. – Hye Mi caminhou até o guarda-roupa de , mas nada ali parecia chamar a sua atenção. Sem dizer uma palavra, saiu do quarto da garota e caminhou até o seu, voltando minutos depois. – Pegue. – ela entregou à algumas peças de roupas de seu armário. – Vamos ver o que fica legal em você.
- Hye Mi... eu não preciso de tudo isso. Eu tenho roupas o suficiente para levar... – respondeu .
- Digamos que você não pode ser pra sempre a estrangeira... você precisa se adaptar.
- O que tem de errado ser estrangeira?! – interrompeu a garota.
- Não é questão de ser algo errado. Você mesmo vive reclamando que as pessoas te olham como se fosse uma extraterrestre só por não ser coreana... Então, essas roupas vão te proporcionar um pouquinho de camuflagem. Embora pareça impossível, isso não é. – ironizou Na Hye Mi.
- Você acha mesmo que eu consigo me disfarçar?! – riu da loucura que a amiga estava dizendo.
- , se não fosse por esses enormes olhos... – Hye Mi parou de falar ao perceber o olhar de censura da amiga. – Você, de costas, parece um pouco pertencer a esse lugar. – ela riu, retomando o controle da situação. – E usando essas roupas, chamará menos a atenção... ou seja, menos pessoas irão perceber que você não é daqui. Então não discute. Eu só quero te ajudar.
resolveu ceder ao pedido da amiga, não querendo ficar intermináveis horas ali, a convencendo de que aquilo não teria sentido algum. não iria parecer nunca uma coreana. Tudo nela era diferente: os cabelos castanhos lisos – mas não tanto quanto a maioria dos cabelos das pessoas dali -, os olhos sem nenhum traço oriental, e até mesmo a estrutura do seu corpo...
Após algumas horas, que mais pareciam dias, a mala de finalmente estava pronta. Nela, algumas peças de roupas como blusas, calças jeans e um único casaco estavam bem dobrados e guardados.
- Você só vai ficar durante um final de semana, ! – Hye Mi ralhou ao ser questionada o motivo de deixar a garota levar apenas um casaco na mala. – Aish...
E depois disso, as horas pareciam não querer passar. O ponteiro parecia se arrastar, como se travasse uma guerra com o próprio relógio. já não sabia há quanto tempo estava encarando o pequeno relógio na mesinha que ficava ao lado de sua cama. Tentou desviar sua atenção do objeto, começando a trabalhar mentalmente em sua “lista de coisas para fazer”. Enviar um e-mail para a família: check. Arrumar a mala: check. Descansar para estar bem disposta para a viagem amanhã... bufou. Ela precisava fazer a sua mente parar de pensar. Precisava relaxar, caso contrário, no dia seguinte teria grandes olheiras sob os seus olhos. Seria capaz de seu mentor mandá-la de volta para casa, caso a visse nesse estado.
E quando menos esperou, o sono finalmente veio.
O dia havia sido desgastante. nunca imaginou que ser assistente pessoal de um diretor seria tão cansativo. Desde que chegou em Jeju, a única coisa que fez além de deixar sua mala no quarto do hotel, foi trabalhar. Não que não tenha sido divertido. estava adorando tudo o que via e aprendia, mas não podia negar o quão cansada estava. Ela sequer teve tempo de avisar à Hye Mi que chegou bem e que o lugar era lindo. Na verdade, ela nem sabia se a amiga já conhecia o lugar. Provavelmente sim, já que Hye Mi sempre disse gostar de viajar.
- ... por favor, anote na agenda que amanhã, às 10 horas da manhã...teremos uma reunião com todo o elenco presente e produção para falar das regras e horários enquanto estivermos aqui... – o diretor Jin Hyuk, chefe e mentor da garota pediu. Imediatamente, concordou e fez o que o homem falou. Ela não queria dar espaço para erros, não quando tinha uma excelente oportunidade de provar que era capaz de se tornar uma excelente roteirista e profissional.
Após certificar-se de seus compromissos para o dia seguinte, caminhou até o seu quarto de hotel, louca para poder tomar um banho e finalmente descansar. Hoje havia sido apenas uma prévia do que seria o final de semana. Quando chegou em Jeju, aproximadamente às duas horas da tarde dessa sexta-feira, a garota não parou um minuto. Visitou com a equipe técnica e o diretor os locais que gravariam no dia seguinte, confirmou a chegada dos equipamentos e dos figurantes, acompanhou todo o check-in da equipe em seus devidos quartos e cuidou da agenda do seu chefe. O almoço foi a única refeição que teve no dia, pelo simples fato de ter se esquecido de comer alguma coisa a mais. A ansiedade e a curiosidade a consumiam de modo que esqueceu totalmente das suas próprias necessidades básicas.
abriu a sua mala e procurou com o olhar alguma peça de roupa que fosse confortável para usar aquela noite. Acabou optando por uma blusa simples e uma calça de malha, satisfeita por não ter esquecido essas peças em casa. Prestes a caminhar até o banheiro da suíte, a garota foi interrompida pelo toque do telefone.
- Alô?
- ? Aqui é o Diretor Jin Hyuk. – o homem do outro lado da linha anunciou.
- Ah, sim. Está tudo bem? – perguntou confusa. – Aconteceu alguma coisa?
O homem riu da atitude de , já esperada por ele. Ela sempre estava de prontidão, pronta para atender a qualquer chamado profissional. Jin Hyuk se questionava se ela era assim também em relação à sua vida pessoal.
- Não, não aconteceu nada. Eu só queria saber se você gostaria de jantar comigo essa noite... – começou a falar, mas Jin Hyuk sentiu necessidade de se explicar melhor. – Digo, eu queria acertar uns últimos detalhes sobre amanhã, além de conversar com você sobre o seu roteiro. Mas se não quiser, tudo bem. Sei que está cansada...
- Tudo bem. Que horas? – o interrompeu. – Eu estou morrendo de fome mesmo... então um jantar é uma excelente ideia. – brincou. A garota sabia que o homem era solitário e não a estava convidando por ter segundas intenções. Ele era obcecado por trabalho e com isso, acabou deixando a sua vida pessoal para trás, a ponto de não ter a quem recorrer senão a amigos de trabalho.
- Às nove? – o diretor perguntou, aliviado por ter companhia para aquela noite.
- Ok. Só preciso tomar um banho antes... mas prometo não demorar! Caso contrário, acho que desmaiaria... – respondeu e ouviu risadas do homem em seguida. Embora só estivessem trabalhando juntos há apenas a alguns dias, a cumplicidade era algo onipresente no relacionamento deles. Não só a cumplicidade, como também a compreensão e a identificação era mútua. Por muitas vezes nesse período, Jin Hyuk se perguntou se não seria uma versão feminina de si próprio...
se apressou para tomar um banho e estar pronta antes do horário combinado. Ela só tinha trinta minutos para se arrumar e isso deveria ser o suficiente, se não fosse pela dúvida do que usar para o jantar. Definitivamente, aquela blusa e a calça escolhida anteriormente não serviriam.
Às nove e cinco da noite, a garota estava em pé, na entrada do restaurante do hotel. Jin Hyuk já estava à sua espera, numa das mesas do local. Era incrível a pontualidade da maioria dos coreanos. Quando a viu, o homem se levantou e esperou que a garota caminhasse em sua direção. Ela estava belíssima em um vestido preto simples, com os cabelos soltos e um sapato com saltos altos. Se não fosse pelo vestido e pelo sapato, não estaria muito diferente do seu natural, já que esta preferia seu confortável jeans e tênis para os dias normais. Não que esse fosse um dia especial, mas o lugar pedia por algo mais elegante.
- Obrigada. – agradeceu ao homem que gentilmente puxava a cadeira para ela sentar.
Depois de escolherem o que iriam comer no jantar, e Jin Hyuk conversavam animadamente sobre muitas coisas. No entanto, o assunto que sempre prevalecia era “trabalho”.
- A reunião de amanhã é importante, pois será onde iremos enfatizar as regras, como ser proibida as saídas noturnas quando se tem gravação na manhã seguinte. Ou como é expressamente proibida qualquer forma de atividade em que os atores corram o risco de se machucar. Não podemos atrasar as gravações porque um ator brigou na balada e ficou com o rosto machucado por completo. – Jin Hyuk explicou. - Embora todos já saibam, é importante repetir, pois de alguma maneira, eles acham que essas regras se anulam quando viajamos. Entendo que podem até querer curtir o lugar... mas eles precisam ser profissionais sempre. E isso é uma coisa que nós, diretores, precisamos garantir.
ouvia tudo atentamente, anotando em sua mente para não esquecer depois. Ele tinha razão. Os atores não estavam viajando de férias, portanto, não deveriam fazer qualquer coisa que colocasse o trabalho em risco. Se quisessem se divertir, poderiam vir ao local em uma outra oportunidade que não fosse à trabalho.
- Conte-me... como está se saindo com o seu roteiro? – o homem perguntou, chamando a atenção da garota. – Eu gostaria de dar uma olhada na parte nova quando voltarmos a Seul... estou curioso sobre como você levará as questões a diante.
- Eu estou trabalhando nisso... – respondeu incerta. Na verdade, ela não tinha trabalhado no roteiro nos últimos três dias e com isso, a garota sentia que o projeto estava ficando atrasado.
- Tudo bem. Continue dando o seu melhor. – Jin Hyuk sorriu, tentando tranquilizar a garota. Ele já tinha passado por isso muitas vezes, já que antes de se dedicar à direção, começou a sua carreira como roteirista.
O jantar havia sido agradável para . O diretor era uma boa pessoa e realmente queria ajudá-la. Toda a conversa que tiveram durante a noite tinha sido aproveitável para ela.
Caminhando até a saída do restaurante, se despediu do chefe. O homem agradeceu pela companhia, mas era a garota que estava mais agradecida por estar vivendo tudo o que sempre sonhou e graças à ajuda de Jin Hyuk.
Prestes a entrar no elevador, sentiu o seu celular vibrar. Desculpou-se com o diretor por ter que deixá-lo ali, já que não teria sinal dentro do elevador, e caminhou até o jardim do hotel para então atender a ligação.
- Você está viva?! – brincou Hye Mi, assim que percebeu que a amiga tinha atendido a ligação. – Eu estava quase ligando para a polícia! Por que demorou a atender?
riu da divertida Na Hye Mi, se dando conta do quanto ela já fazia falta em sua vida. Se pudesse, teria trago a garota consigo para essa viagem.
- Estou bem. Desculpa por não ter te ligado mais cedo... – se desculpou. caminhou até um banco vazio que tinha ali no jardim do hotel e sentou. – Isso é uma loucura. – a garota suspirou, feliz.
Olhou para o céu contemplando a brilhante lua, que por sua vez, iluminava o jardim onde ela estava. Ainda olhando para o céu, observou que não havia tantas estrelas para dividir o espaço com a magnífica lua.
- Fico feliz que esteja bem. Hoje eu tive um encontro... – Hye Mi falou pensativa, mudando bruscamente de ânimo.
- E como foi?
- Chato. Estou começando a pensar que casamento não é uma coisa possível para mim. – dramatizou. sabia que ela estava falando isso da boca para fora e que logo iria se arrepender de ter dito.
As duas garotas ficaram conversando por mais um bom tempo, até que a bateria do celular de apitou, avisando que não demoraria muito e o aparelho desligaria. Despediram-se, desejando que durante o final de semana tudo desse certo para ambas as garotas.
Sentindo-se feliz e leve, resolveu permanecer um pouco mais de tempo ali sentada. Mesmo estando cansada, ela não queria mais que o dia acabasse. Queria prolongá-lo ao máximo que pudesse, com medo de que aquele sonho fosse terminar.
- Eu não fiz nada! – a garota ouviu um voz gritar, próximo a ela. Procurando saber de onde aquele som tinha vindo, girou o corpo, sem sair do banco, e olhou em volta. De alguma forma, ela conhecia aquela voz. Curiosa, caminhou até onde duas sombras se misturavam, na lateral externa do hotel, em um corredor parcialmente escuro. – Eu já disse...
não conseguia enxergar muito bem, mas conseguiu definir que eram dois homens. E eles estavam brigando. O mais alto, que parecia ser muito bonito, acertou um soco no rosto do rapaz mais baixo. caminhou mais perto, tentando reconhecer o rosto de quem tinha a voz conhecida por ela. E isso chamou a atenção do rapaz mais alto. Ele olhou em direção da garota, deixando sem querer o outro rapaz escapar. Seus olhos sobressaltaram ao perceber quem era a garota curiosa que tinha ajudado o idiota fugir. E agora ele teria problemas.
Durante toda a noite, não conseguiu dormir tentando descobrir o que deveria fazer. E isso já estava virando uma terrível rotina. Quer dizer, ficar sem dormir. No entanto, profissional do jeito que era, a garota estava pontualmente às dez da manhã no local onde a reunião de trabalho estava marcada.
Aos poucos, todos da equipe foram chegando, com exceção daquele que havia quebrado uma das regras na noite anterior. O que ela deveria fazer? Deduraria o rapaz para o diretor ou fingiria que nada tinha acontecido?! Seria justo colocar a confiança que o diretor tinha nela em risco, apenas para ajudar a alguém que não se importava com regras? Alguém que não era nem um pouco profissional? Valeria a pena se arriscar desse jeito?
- Estão todos presentes? – perguntou o diretor para a garota. – Eu não estou vendo o Lee Min Ho por aqui. – sentiu seu estômago querer sair pela boca ao ouvir o nome do infrator. Definitivamente, não seria ela que contaria ao diretor o que aconteceu. Ela deixaria que o próprio rapaz contasse e no final das contas, fingiria jamais ter visto tal coisa. Não queria se meter nos assuntos dos outros e muito menos ter que lidar com a fúria do chefe. mal dava conta dos seus próprios assuntos, quanto mais se meter no assunto de outras pessoas e arranjar problemas...
- Ainda n-não ch-chegou. – gaguejou, tentando encontrar a voz. O diretor olhou pra ela sem entender e perguntou se estava tudo bem. A garota apenas confirmou com a cabeça, não querendo correr o risco de gaguejar novamente.
- Por favor, peça para o pessoal do hotel ligar para o quarto dele. – Jin Hyuk ordenou.
- Não precisa. Ele acabou de chegar.
Era a primeira vez que via Lee Min Ho depois da noite anterior. E parecia que o garoto tinha se dado melhor na briga, já que seu rosto não estava machucado. suspirou aliviada, afinal, seria menos um problema para lidar.
Durante toda a reunião, os olhares de e Lee Min Ho não se cruzaram. Da mesma forma que a garota, o ator parecia fingir que nada estava fora do normal.
Lee Min Ho não pôde disfarçar o quanto estava aliviado por ninguém comentar ou perguntar sobre o que aconteceu, sinal de que a estrangeira não o tinha dedurado, quando a reunião acabou. Pensou em diversas formas de chegar na garota e agradecer, sem que isso parecesse muito suspeito. Esperou pela melhor oportunidade, mas parecia impossível, já que estava sempre ao lado do diretor. Durante todo o final de semana, o rapaz viu suas chances ficarem escassas, já que tanto ele quanto ela estavam ocupados com as gravações e outros compromissos ligados ao trabalho.
- , você já arrumou as suas coisas? Nós sairemos daqui às sete da noite. – Lee Min Ho ficou atento ao que uma das produtoras dizia à garota.
- Já sim. Eu só vou tomar um café... e logo estarei de volta, pronta para partir. – respondeu, curvando-se e despedindo-se da produtora. A garota pegou a sua bolsa e deixou para trás o lugar onde o ator também estava.
- Um americano, por favor. – a brasileira pediu ao atendente da cafeteria local.
- Dois. – ouviu uma voz masculina soar próxima a ela. – Eu posso falar com você? – a mesma voz sussurrou em seu ouvido, fazendo a garota se assustar. virou o corpo para saber quem ousava chegar tão perto dela sem nem mesmo a conhecer. E para a sua surpresa, era Lee Min Ho.
- Podemos nos sentar? – o ator apontou para uma das mesas vagas, assim que já estavam com suas bebidas em mãos. Curiosa e ainda surpresa, apenas caminhou até a mesa na qual o jovem se referiu segundos atrás.
procurou em sua mente o motivo pelo qual o rapaz queria falar com ela e a única coisa que encontrou foi o incidente de dias atrás.
- Qual é mesmo o seu nome? – Lee Min Ho soou arrogante. E de alguma forma, se sentiu ofendida. Não pelo rapaz não saber o seu nome, mas por algo nele a incomodar. Talvez fosse a sua atitude, seu ar de superior...
- De que isso importa? – a garota respondeu rudemente, surpreendendo o ator. Lee Min Ho não sabia o que tinha feito para que ela o tratasse assim. Será que ela teria ficado com raiva pela situação em que o viu? Se fosse isso, por que não o dedurou então?! – Olha, se for falar sobre o outro dia, é só esquecer. Eu não vi nada.
- Eu... – Lee Min Ho estava surpreso demais para o seu próprio bem. – Por que você não contou para o diretor? – sua curiosidade falou mais alto do que os bons modos.
- É só agradecer. – deu de ombros, ignorando a pergunta do rapaz.
- Você tem razão. Obrigado. – o ator estava arrependido pela sua falta de educação. – Começamos de forma errada. Desculpa. – ele sorriu para , que o olhava sem entender a mudança repentina de atitude. – , não é? Seu nome... – Lee Min Ho tentou lembrar o nome que a produtora tinha dito antes. – Estou curioso sobre uma coisa... – recomeçou a falar ao perceber que era esse mesmo o nome da garota. – Por que eu estou impune ao invés de pagar o preço por ter quebrado uma das regras do diretor Jin Hyuk?
- Eu não sei. – estava sendo sincera. Nem mesmo ela sabia o porquê de não ter contado nada para o seu chefe. Isso não iria contra a ética de trabalho? Digo, se uma de suas funções era garantir que os atores andassem na linha...
- De qualquer forma, obrigado. – Lee Min Ho lançou o seu melhor sorriso, tentando demonstrar o quanto estava agradecido. – E sobre aquela noite... bom, eu precisava...
- Não precisa. Sério, não precisa me dizer. – o interrompeu. – Eu acho que... um dos motivos que me fez não contar nada foi para não me envolver. Eu acho que é melhor assim, cada um com seus problemas. Não quero pensar que de alguma forma estou sendo a sua cúmplice... e você me contando isso, só faz essa sensação aumentar.
estava se sentindo incomodada com aquela situação. Incomodada em imaginar que a qualquer momento alguém poderia vê-los juntos e questionar o que os dois tinham para falar. Ela não queria criar suspeitas e ter que mentir para não ficar mal com o diretor. Tudo para ela estava começando agora... e não queria jogar essa oportunidade fora.
- Bom, se era só isso... – a garota se levantou da mesa. – Desculpa, mas eu preciso ir.
se curvou, despedindo-se do rapaz, para então poder ir embora. Lee Min Ho a seguiu com o olhar até a saída do local, questionando-se o que passava na mente daquela garota. era imprevisível e isso só o deixava mais curioso.
- ELE FEZ O QUÊ?! – Hye Mi gritou, para logo ser repreendida pela bibliotecária com um “Shhh...”. Quando chegou no dia anterior, a garota já estava dormindo e por isso não pôde saber dos detalhes do que tinha acontecido durante a viagem da amiga.
- Controle-se! Não esqueça que você está em uma biblioteca... – lançou um olhar de censura para a amiga. Ela não queria ser expulsa do local porque Hye Mi não conseguia controlar o tom de sua voz.
- Sério?! Eu não acredito! Ele parece ser tão tranquilo... – Hye Mi tentou falar o mais baixo que conseguia, mas certificando-se que a ouvisse. - E ele é muito bonito, não é?!
- Eu não quero mais falar sobre isso. Eu disse a ele para esquecer... assim como estou dizendo para você. Esqueça. Já pensou se isso vira notícia?! Eu estarei ferrada! Ele sabe que eu sou a única pessoa que viu a situação toda... e não quero criar inimigos. Quero ser neutra, está entendendo? Não conte a ninguém. Promete?
- Prometo. – Hye Mi falou desanimada por não querer lhe contar mais sobre o que aconteceu.
- Mudando de assunto... o que fez durante o tempo que fiquei fora? – mudou o foco da conversa. Por conhecer Hye Mi muito bem, sabia que perguntar sobre ela e o que tinha feito seria o assunto ideal para encerrar de vez o incidente na Ilha Jeju.
- Ah, depois que nos falamos aquela noite... eu tive um encontro! – Na Hye Mi se animou outra vez. – E lamento dizer, mas essa noite você ficará sozinha em casa... Nos encontraremos de novo! Quero dizer, eu e o meu futuro marido, assim eu espero! – a garota completou e jurava ter visto um brilho em seus olhos.
- Dará tudo certo! Fighting! – a brasileira riu ao lembrar do jeito engraçado que os coreanos diziam essa última palavra.
estava finalmente se acostumando à sua nova rotina: na parte da manhã frequentava as aulas de coreano na KU e à tarde ia para o estúdio acompanhar as gravações como assistente pessoal do Diretor Jin Hyuk. E, às vezes, trabalhava em seu roteiro com a supervisão do homem mais velho. Mas ela não reclamava. Estava aprendendo bastante com toda aquela experiência.
- , você precisa conhecer o Gong Yoo... – Amelie, uma americana e colega de trabalho de falou. – Ele fará parte do elenco a partir dessa semana! Não preciso dizer que além de bonito, ele é um amor, não é?! – ela sorriu para a brasileira. As duas haviam se tornado mais próximas com o tempo, percebendo que tinham muitas coisas em comum, além do fato de serem estrangeiras naquele país. Amelie sonhava em ser uma produtora executiva, enquanto se contentava com roteiros. Ambas não estavam no país há muito tempo e estavam se virando muito bem. A americana tinha os cabelos loiros e encaracolados. No rosto, um brilhante sorriso e um par de olhos verdes. Definitivamente, era uma mulher bonita e que chamava atenção.
- E por quê? – brincou, fingindo desinteresse. Gong Yoo era, na verdade, um de seus atores favoritos. Embora não soubesse os mínimos detalhes da vida do rapaz, a garota se considerava fã de seu trabalho. E tudo graças à mania da menina de assistir a todos os trabalhos dos atores que gostava que estavam listados no Wikipedia.
- Porque sim! Como você pode trabalhar no melhor emprego do mundo e não aproveitar as oportunidades para tirar foto com os famosos?! Quando você voltar para o Brasil, quem vai acreditar que você realmente os conheceu?! – Amelie tinha uma personalidade que lembrava muito o jeito peculiar de Hye Mi. acreditava que elas seriam grandes amigas, caso dessem uma chance de se conhecerem melhor.
- Outro dia, quem sabe. – deu de ombros, ainda sorrindo para a colega. – Eu preciso ir embora. - Ela mentiu, afinal, não estava com uma cara muito boa e nem com a sua melhor roupa para apresentar-se ao incrível Gong Yoo.
se despediu de uma Amelie inconformada com a sua atitude e caminhou até o ponto de ônibus mais próximo do trabalho. A viagem que faria dali até chegar em casa seria aproximadamente de uns trinta minutos. Preparada, pegou o ipod que tinha colocado na bolsa mais cedo e colocou os fones de ouvido. Não querendo ouvir sua playlist em uma ordem particular, apertou o botão “random”, para que a ordem das músicas a surpreendesse.
Enquanto a melodia da primeira música soava através dos fones de ouvido, se permitiu viajar em seus pensamentos. Era incrível como o lugar e a cultura influenciavam o estado de espírito da garota e até mesmo em seu gosto musical. No ipod, que antes tinham diversas músicas americanas e brasileiras, agora só tinham poucas músicas nacionais – as suas preferidas – e as demais eram coreanas. havia desenvolvido uma paixão pelo kpop graças à Hye Mi, que a apresentou a diversos grupos como o BigBang, BTS, K.A.R.D, Monsta X e as meninas do Blackpink.
- E como foi hoje? Encontrou o maravilhoso do Min Ho? – Na Hye Mi perguntou a amiga, assim que chegou em casa, fazendo com que esta a olhasse em censura.
- Não. Hoje trabalhei bastante no meu roteiro... por ordem do próprio Diretor. Ou seja, fiquei em um canto isolada de qualquer barulho ou ação para que tivesse concentração.
caminhou até o sofá pequeno e confortável, jogando-se sobre ele. Acompanhou uma elegante Na Hye Mi com o olhar. A coreana estava impecável: com um belo vestido preto e um par de sapatos altos da mesma cor, e apenas terminava de colocar os seus brincos para poder finalmente sair.
- Eu fiz ramen... se quiser comer. Eu sabia que você ia chegar cansada, então te poupei do trabalho. – Hye Mi pegou a sua bolsa e caminhou até a porta, mandando um beijinho no ar para a amiga antes de sair.
Cansada, decidiu que iria apenas tomar um banho, para depois poder jantar. A garota precisava colocar o seu sono em dia... mas algo parecia não querer deixar isso acontecer.
xoxo, Carol.”
Enquanto esperava o Skype conectar, encarou novamente a mensagem que sua prima havia lhe enviado minutos antes no celular. A garota já tinha tomado banho e agora estava terminando o seu jantar, adiando novamente o seu descanso.
pegou-se novamente rezando para que não fosse nada de ruim e muito menos que Carol a prendesse numa interminável conversa sobre o por que de os homens não prestarem.
- Oi! – tentou parecer animada para a garota do outro lado do mundo. Carol, a única prima que realmente tinha contato e afinidade, sorriu de volta. – Como estão as coisas por aí?
- Está tudo bem. – sabia que a garota estava mentindo. Carol estava preocupada com algo. – E você? Saindo muito... conhecendo caras legais?
- Anda, desembucha.
- Responde a minha pergunta primeiro... – Carol parecia triste. observou a prima, procurando entender o que se passava em sua cabeça. A garota estava com os olhos abatidos, descontentes. E isso não era muito “Carol”.
Carolline era muito parecida com : seus olhos eram castanhos, não era muito alta e seus cabelos eram escuros. A garota seria facilmente modelo se não fosse por sua estatura baixa, já que era bonita.
- Estou bem. Um pouco cansada, na verdade... E quanto aos garotos, aqui não é como no Brasil. Os coreanos levam relacionamentos muito a sério, pelo menos em sua grande maioria. De qualquer forma, não vim aqui para namorar... meu foco é os estudos. – deu de ombros.
- Você está dizendo isso por causa do Nick? – Carol perguntou, pegando de surpresa pelo nome do garoto que ela gostava ter surgido no meio da conversa.
- O que isso tem a ver?
- Me responde com sinceridade... Você está se focando 100% nos estudos apenas para poder voltar para o Nick? Porque...sinceramente, eu não estou vendo ele te esperando. – Carol resolveu soltar tudo de uma vez e acabar com aquela agonia. – Desde que você saiu do país, eu o vejo com garotas diferentes a cada semana. E , você não merece se prender por um cara como esse…
- Por que você está me contando isso? – engoliu seco, sem entender o que realmente estava acontecendo.
- Porque você pode estar perdendo a chance de conhecer alguém legal aí...com medo de se envolver e acreditar que está traindo o Nick... quando na verdade, eu não acredito que ele pense ter um relacionamento ainda com você. Não quero que você fique acreditando que o Nick é o príncipe dos seus sonhos e que está esperando você voltar para ficarem juntos... Ele está agindo como se nem a conhecesse! Por acaso, ele entrou em contato com você alguma vez desde que chegou aí?!
não sabia o que falar, muito menos o que pensar. Ela realmente acreditou que Nick a esperaria? O que Carol dizia era verdade? Provavelmente, já que a garota não tinha motivos para mentir para a prima. Nick não tinha entrado em contato com , nem mesmo para dizer que sentia a sua falta. Ela acreditou que o garoto poderia estar ocupado... e ele realmente estava, mas ao contrário do que pensava, o motivo não era por trabalho... e sim, mulheres.
- Eu não estou aqui para relacionamentos, ou seja, não estou me “segurando” por causa do Nick. Estou totalmente focada nos estudos e no estágio... – tentou reorganizar os pensamentos. Não queria demonstrar fraqueza e a sua inocência por ter acredito que Nick a esperaria. No entanto, não precisava. Carol sabia exatamente o que se passava na cabeça de . Ela sabia que a prima havia sido ingênua o bastante durante todo esse tempo longe. – Na verdade, eu não penso mais no Nick...eu sabia que um ano seria pedir muito para ele esperar... – e essa era a maior mentira de .
Com a desculpa de que precisava descansar para trabalhar bem amanhã, se despediu de Carolline e desligou o notebook. Caminhou até a cozinha à procura de Soju, acreditando que se tomasse aquele líquido não pensaria mais no assunto. Puro engano.
Quando Na Hye Mi chegou em casa, se deparou com uma cena nada típica do comportamento de : a garota estava sentada no chão, perto da mesinha de centro onde estava o seu notebook fechado. A cabeça de estava deitada sobre o eletrônico, com uma garrafa de soju completamente vazia ao lado.
- ... o que houve? – Hye Mi sussurrou, tentando acordar delicadamente a amiga. – ?
abriu os olhos e sem demorar, voltou a chorar. Hye Mi não sabia o que fazer a não ser abraçar a garota que agora se desmanchava em lágrimas.
- O que aconteceu? – insistiu Na Hye Mi.
- Por que não existe nenhum homem que presta? – falou entre soluços.
- Existe, amiga. Só é difícil de encontrar... você não pode desistir por causa de um idiota.
- Como você sabe que ele é um idiota? – perguntou , secando algumas lágrimas.
- Porque só idiotas fazem uma garota chorar. – concluiu Hye Mi, lançando o seu melhor sorriso materno para a brasileira.
Hoje fazia uma semana desde o dia em que se permitiu chorar por alguém no chão da sala, envolta pelos braços de Hye Mi. Desde então, fez o que estava ao seu alcance para não pensar mais no assunto, embora Hye Mi estivesse dificultando um pouco.
- Eu preciso desligar... tenho que voltar ao trabalho!
- Não antes de me responder... se eu marcar um encontro pra você, você irá? – insistiu Hye Mi do outro lado do telefone.
- Não. – foi rude em sua resposta. – Isso não é pra mim. Não quero saber de relacionamentos... Quantas vezes preciso dizer que só quero estudar e aprender o idioma?! – a garota estava começando a se irritar com a teimosia da amiga.
- Tudo bem. – sabia que Hye Mi dizia isso, mas que no fundo estava chateada por sua amiga não dar uma chance a ela.
- Preciso desligar. – repetiu . A garota estava na cafeteria que tinha em frente ao prédio em que trabalhava. Ultimamente, a cafeína era o que a mantinha sob alerta, acordada. Era o seu mais novo vício.
Distraída, acabou esbarrando em um homem enquanto tentava sair do local, derramando toda a bebida quente em sua blusa branca.
- Desculpa... – começou a se desculpar para o estranho, curvando-se.
- Isso deve estar queimando. – o rapaz falou e o encarou, reconhecendo a sua voz. – Deixa eu te ajudar...
- Não, está tudo bem. Obrigada... – rapidamente, correu até o banheiro do lugar, que por sorte, estava vazio.
Droga, ! A garota abriu a torneira da pia e pegou um pedaço de papel. Molhou o pequeno papel, para então, esfregá-lo na blusa. É claro que aquilo não daria certo...só mancharia mais. suspirou, fechando os olhos. Tudo estava dando errado naquele dia. “Por que eu fui esbarrar justo nele?!”, pensou . Na verdade, ela nem sabia o motivo de ter fugido do rapaz... o incidente com Lee Min Ho tinha ficado para trás, mas por que insistia em manter a distância dele? O ator não tinha feito nada demais. Durante os últimos dias, manteve distância da garota e não trocou uma palavra sequer com ela. Tudo o que tinha feito hoje foi ser gentil…
Para alívio de , quando saiu do banheiro Lee Min Ho não estava mais ali. Constrangida por estar com a blusa branca toda manchada de café, teve que "aguentar" e voltar para o trabalho, deixando para trás a oportunidade de comprar uma nova blusa e trocá-la. O Diretor Jin Hyuk provavelmente estaria irritado com a longa ausência da garota.
- O que houve com você? – perguntou o diretor assim que viu depois do acidente na cafeteria.
- Desculpa a demora... é que eu me distraí e sem querer esbarrei em um ajusshi... – Lee Min Ho, que minutos antes conversava com o diretor, encarou ... Ela o tinha chamado de ajusshi?!
- Aigoo... só tome mais cuidado! Você anda tão distraída!
concordou com a cabeça e deixou o local, rumando em direção à sua sala. Tudo o que ela queria era poder se esconder e não chamar a atenção, mas era o oposto que estava acontecendo.
- Você ainda está aí?! Todo mundo já foi embora... – Amelie apareceu na porta da sala de . A brasileira olhou para o relógio em seu pulso e suspirou ao notar quão tarde estava. Depois de passar vergonha devido à sua distração, passou o resto do dia trancada em sua sala, trabalhando em seu roteiro, já que o Diretor havia a dispensado.
- Eu perdi a hora... já estou indo. – sorriu para a colega.
- Ok... você quer que eu te espere? – ofereceu Amelie.
- Não, não precisa. Obrigada! - a garota agradeceu, vendo a colega de trabalho concordar e sair.
Lentamente, começou a guardar as coisas em sua bolsa. Olhou o celular e nele tinha duas mensagens de Hye Mi perguntando se estava tudo bem, já que a garota ainda não tinha chego em casa. Provavelmente, Na Hye Mi surtaria, achando que a estava evitando, quando na verdade, a brasileira não tinha notado as mensagens até agora.
Quando chegou ao saguão do prédio onde trabalhava, percebeu que a chuva caía forte. Amaldiçoou até a quinta geração de Zeus, o deus da chuva, segundo a mitologia grega. Ela não tinha levado nenhum guarda-chuva consigo... e estava arrependida de ter se mantido alheia às previsões do tempo.
Sem muita opção, caminhou sob a chuva até o ponto de ônibus mais próximo. Além de manchada de café, sua blusa – assim como o restante de suas roupas – estava totalmente encharcada. Seus cabelos grudavam em seu rosto e nos ombros, molhados e pesados.
Não querendo pegar uma gripe, a garota olhou novamente para o relógio, como se isso fosse fazer aparecer um ônibus ou até mesmo um táxi mais rápido.
- Hey! – ouviu alguém gritar. – !
olhou em direção à pessoa que a chamava. Dentro de um elegante Veloster preto, Lee Min Ho a olhava, na esperança da garota o reconhecer.
- Entra! – ele gritou por cima do barulho da chuva e dos carros que passavam por ali. – Eu te dou uma carona!
- Eu estou bem, obrigada. – sorriu fracamente e desviou o olhar do rapaz, procurando algum ônibus ou táxi em que ela pudesse pegar para chegar em casa. Para a sua surpresa, Lee Min Ho saiu do carro e debaixo da chuva, caminhou até ela.
- É só uma carona. Se ficar mais um tempo aqui, com as suas roupas molhadas, você provavelmente vai pegar um resfriado. – o ator falou, mas parecia estar decidida a se manter longe dele. – Entenda isso como um agradecimento por ter me salvado de um problemão... Ou como um pedido de desculpas pelo acidente de mais cedo. – ele apontou para a blusa de .
A garota não tinha muita escolha se não quisesse ficar doente. Estava tarde e já não tinha quase nenhum ônibus passando por ali... e até agora, também não tinha visto nenhum táxi disponível.
- Tudo bem. Obrigada. - finalmente cedeu.
- Pode entrar. – anunciou logo após alguém bater à porta da sua sala. Segundos depois, Amelie apareceu.
- Deixaram isso pra você na recepção. – Amelie entrou na sala e entregou uma pequena caixinha à garota. – Você não vai ao parque acompanhar as gravações hoje?
- Ah, obrigada. – encarou a caixinha curiosa. Quem poderia ter enviado aquilo para ela? – Vou mais tarde. Preciso terminar algumas coisas que o Diretor pediu primeiro. – a garota sorriu para Amelie, que concordou com a cabeça e deixou a sala.
Curiosa e sem saber o que esperar, encarou o objeto que mais parecia pertencer a uma joia. Depois de alguns segundos, abriu a pequena caixinha a fim de matar a sua curiosidade. Dentro dela, tinha um comprimido branco e um bilhete dobrado. Sem entender o que aquilo significava, abriu o bilhete e o leu.
riu. Por que ele estaria preocupado com ela? Seria devido à sua consciência pesada sobre o seu ato infrator de dias atrás? Mas o que isso tinha a ver com a garota? sacudiu a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos e se concentrar no trabalho. Colocou, então, a caixinha ainda aberta e com o comprimido dentro ao lado de seu computador, voltando a sua atenção às coisas que o diretor tinha pedido para ela fazer.
Após terminar todos os seus afazeres em sua sala, pegou um táxi com destino ao parque onde as gravações ocorriam.
- Já terminou? – o Diretor perguntou surpreso, brincando com a garota. – Você é muito rápida!
entregou todos os documentos digitados ao homem, que sorriu em agradecimento. De longe, a garota percebeu que Lee Min Ho tinha o seu olhar preso em sua direção. Sem graça, desviou o olhar, voltando a sua atenção para o chefe.
- Tem mais alguma coisa que eu possa fazer?
- Sim, eu gostaria que você assistisse a essa cena e me dissesse o que acha. – Jin Hyuk anunciou. o encarou surpresa, mas concordou logo em seguida. Ele deveria confiar muito nela para poder pedir a sua opinião sobre seu trabalho.
A cena se resumia em um diálogo entre Lee Min Ho e uma outra atriz que não lembrava o nome. Enquanto assistia a cena, a garota tentava não prestar atenção somente no bonito rapaz... mas isso parecia impossível. Seu olhar estava preso nas ações de Min Ho, tudo o que conseguia pensar era o quão sexy ficava em sua voz o texto. Parecia tudo tão verdadeiro.
Esse texto lhe parecia familiar. Rapidamente, lembrou-se do incidente com o rapaz na Ilha Jeju. Será que o diretor sabia do que tinha acontecido? Não...talvez não. Foi aí que a garota entendeu a verdade que Lee Min Ho transmitia ao falar o texto. Ele estava sendo verdadeiro por que tinha vivido uma situação parecida e estava arrependido?
- O que achou? Gostou? Pode ser sincera... – o Diretor Jin Hyuk a tirou de transe.
- Sim, gostei. Foi bem... verdadeiro. – foi tudo o que conseguiu dizer.
- Fico feliz! Eu também achei que pareceu bastante natural... Lee Min Ho é um excelente ator. – o homem falou e apenas sorriu fracamente, concordando com o que o chefe dizia.
O que estava acontecendo com ela? Embora não quisesse ou gostasse de admitir, não conseguia deixar de estar intrigada com o rapaz. Uma curiosidade crescia dentro dela, querendo descobrir os motivos de suas atitudes, o que se passava em sua cabeça…
- Está tudo bem? – Lee Min Ho perguntou, tirando a garota do seu habitual devaneio.
- O que? – perguntou surpresa.
- Você parecia estar em conflito com algo em sua mente... – ele riu, achando graça da expressão que a garota fazia.
- Ah, não é nada. – sorriu sem graça. – Obrigada... – começou a agradecer, procurando as palavras em sua mente bagunçada. – Por se preocupar. – concluiu, por fim.
- Somos amigos agora? – Lee Min Ho perguntou, ainda sorrindo. Sorriso esse que só fazia com que se distraísse do que estava acontecendo e o admirasse.
- Não exagera. – debochou, dando de ombros, tentando disfarçar que minutos atrás pensava nele. - Eu nem te conheço.
- Prazer, eu sou o Lee Min Ho. – o rapaz estendeu a mão em direção à garota.
Na Hye Mi estava preocupada com . Depois de pegar chuva dois dias atrás, a garota estava começando a desenvolver sintomas de um forte resfriado, começando pela febre. , no entanto, não querendo preocupar a sua companheira de moradia, fingia estar tudo bem e melhorar. Mas é claro que isso não era o suficiente para convencer Hye Mi.
- Vou ligar para o Diretor Jin Hyuk e avisá-lo sobre o que está acontecendo. Definitivamente, você precisa de repouso. Não tem como você ir trabalhar amanhã.
tentou argumentar, mas desistiu assim que sentiu a sua garganta doer, outro sintoma de que ela não estava nada bem. Hye Mi pegou o celular da amiga, tirou uma foto como prova do estado físico da brasileira e procurou na agenda o número do chefe de , deixando-a sozinha na sala, com o intuito de falar com o homem com mais privacidade.
Ao perceber a intenção da amiga, respirou fundo e depois sorriu. Provavelmente, Hye Mi estava fazendo isso porque acreditava que a garota poderia interferir na sua conversa com o Diretor.
Durante toda a noite, Na Hye Mi ficou de prontidão para cuidar de , preocupada que a brasileira piorasse. A febre, por diversas vezes, aparecia e sumia. Ora forte, ora fraca.
- Eu gosto desse filme. – falou, deitando no ombro de Hye Mi. Era por volta das onze horas da noite e nenhuma das duas garotas haviam conseguido dormir ainda. Querendo ocupar suas mentes, Na Hye Mi sugeriu que assistissem a um filme até que ficassem cansadas o suficiente para dormirem.
- Eu também.
- Seu aniversário está chegando... já pensou no que gostaria de fazer nesse dia? – perguntou, mudando de assunto.
- Você lembrou? Eu só te falei isso uma vez... – Na Hye Mi parecia surpresa.
a encarou como se aquela pergunta fosse estúpida. É claro que ela lembraria a data de aniversário de sua melhor amiga. Para ela, isso não era absurdo algum. Rapidamente, começou a pensar em uma opção para dar de presente a Hye Mi. Se quisesse ser bem-sucedida nessa missão teria que pesquisar bastante, já que presentear a amiga era quase uma missão impossível. Na Hye Mi era o tipo de pessoa que já tinha tudo na vida: um apartamento, carro, roupas, amigos, era bonita e tinha uma família incrível.
- Eu ainda não sei.
- Quem sabe... poderíamos ir a um karaokê! – sugeriu. – E você poderia chamar o seu futuro "noivo"! – tentou animar a amiga. – Ah, eu nem perguntei... como foi o seu encontro aquele dia?
- Ah, foi tudo bem. – Hye Mi falou desanimada. a encarou, como se dissesse com o olhar para que a amiga continuasse a falar. – Nós não... é, quero dizer... Ele parecia preocupado com algo, mas foi gentil o suficiente para não desmarcar o jantar. Ou seja, não progredimos em nada.
- Calma... tudo vai dar certo. Se tiver que ser, será! – abraçou a amiga que estava sentada ao seu lado no pequeno sofá da sala. – Anda... precisamos dormir. Amanhã você tem aula... e nem pense que eu aceitarei que você fique aqui para cuidar de mim. Eu estou melhorando! – completou. Na Hye Mi lançou o seu olhar mais ameaçador para caso estivesse mentindo. – Eu juro!
- Tudo bem.
- Pode ir na frente... eu desligo a televisão. Vou só checar os meus e-mails mais uma vez e logo estarei na cama, pronta para dormir.
Na Hye Mi concordou com relutância e então caminhou até o seu quarto. , por sua vez, pegou o notebook que estava na mesinha de centro da sala e o ligou. Verificou a sua caixa de entrada, mas não havia nenhuma mensagem nova. “Tudo bem, chega de enrolar. Hora de dormir.”, sussurrou para si mesma. A verdade é que não queria fechar os olhos. Não porque tivesse medo de ter pesadelos. O seu medo era de não conseguir deixar de pensar naquele sorriso, naquele par de olhos doces e ao mesmo tempo enigmáticos. De ficar mais uma vez sem conseguir dormir direito, pois toda vez que fechava os seus olhos, era ele quem ela via.
sorriu ao ler a mensagem que Hye Mi enviou para o seu celular há cinco minutos. Definitivamente, a garota parecia a mãe da brasileira. Sempre preocupada, dando ordens e “lendo” perfeitamente. Sem enrolar – coisa que a garota esteve fazendo nos últimos dias - , levantou da cama, decidida a tomar um banho e almoçar.
Nostálgica e sem ter o que fazer em casa, já que não foi à aula e nem trabalhar, decidiu trocar a roupa simples que usava por uma calça jeans e uma blusa branca. Desceu pela escada os três andares que a separavam do térreo do prédio de onde morava. precisava fazer algo para agradecer por todos os cuidados que sua amiga estava tendo com ela e nada melhor do que preparar o tão famoso brigadeiro brasileiro que Hye Mi insistia para ela fazer depois de muito ouvir sobre.
No mercadinho próximo à sua casa, comprou todos os ingredientes que precisaria, tendo que substituir um ou outro, já que na Coréia não tinha algumas marcas que ela conhecia e costumava comprar.
- Quase pronto. – sorriu, satisfeita por fazer algo para agradar a amiga. Talvez apenas mais dois minutinhos no fogo e logo a sobremesa estaria pronta. Com toda a certeza do mundo, Hye Mi ficaria feliz.
Para finalizar a receita, procurou dentre as compras que tinha feito minutos antes o saquinho com chocolate granulado. Olhou por diversas vezes dentro das sacolas, mas nada de encontrar o que procurava. A garota, na verdade, não se lembrava de ter visto o ingrediente no mercado. Irritada, mas sem desistir de fazer tudo direito, decidiu que não teria outro jeito a não ser comprar o que faltava ou algo parecido.
- Onde você anda com a cabeça?! – falou consigo mesma enquanto voltava pela segunda vez para casa. Como se quisesse pregar uma peça, sua mente viajou até as memórias do dia em que ficou debaixo da chuva à espera de um jeito de ir para casa. Ela só podia estar louca. Tentando afastar seus pensamentos traiçoeiros, balançou a cabeça.
- Alguma coisa errada? – a garota foi surpreendida pela voz do culpado por ela não conseguir dormir à noite. Isso poderia ser outra peça de sua insana mente? levantou os seus olhos do chão até a altura do rosto do dono daquela voz.
- O-o qu-que você faz aqui? – perguntou surpresa ao ver Lee Min Ho encostado em seu carro, que estava estacionado em frente à entrada do seu prédio. – Como você sabia...? – sua voz se perdeu no meio da frase. Era uma miragem ou ele estava de fato ali? E qual seria o motivo para o ator ter ido até a casa da garota?
- Como eu sabia... O que? Onde você mora? Esqueceu que eu te trouxe em casa no outro dia? – Lee Min Ho perguntou achando graça da reação da menina. O rapaz não estava preocupado com a sua exposição e com o fato de que pudesse chamar a atenção das pessoas.
- O que você veio fazer aqui? – ela perguntou, ignorando o que ele tinha dito antes.
- Por que você não foi trabalhar hoje?
- Você vai responder a minha pergunta com outra pergunta? – questionou . Lee Min Ho riu ao perceber que era verdade o que estava dizendo. – Praticamente fui obrigada por Hye Mi a faltar o trabalho. – a garota completou, decidida a não dar continuidade àquele jogo infantil.
- Hye Mi?
- Sim. Na Hye Mi é a amiga com quem moro junto. – deu de ombros, como se aquela resposta fosse óbvia.
- Você está doente? – perguntou Min Ho preocupado.
- Não...Quero dizer, não é pra tanto... eu estava com um pouco de febre, mas nada que justificasse a ausência no trabalho... – foi interrompida pelo gesto do rapaz. Lee Min Ho levou sua mão até a testa da garota, a fim de verificar sua temperatura. Agora, definitivamente, eles estavam atraindo olhares curiosos.
- Eu estou melhor. – a garota falou, se afastando do toque do rapaz por impulso.
- Você não tomou o remédio que eu te mandei? Quando você agradeceu...eu realmente acreditei que você tinha sido cautelosa o suficiente com a sua saúde... – Lee Min Ho falou irritado, deixando confusa. Nem mesmo ele sabia de onde vinha aquele sentimento.
- O que há de errado com você? – rebateu, estranhando o comportamento do ator. Lee Min Ho olhou para o seu relógio caríssimo e deixou escapar um ruído de sua boca.
- Eu preciso voltar... Você está com o seu celular aí? – perguntou impaciente.
- Sim... por quê?
- Eu preciso dele por dois minutos. É importante. – pegou o seu celular no bolso da calça e o entregou. Lee Min Ho rapidamente digitou o seu número e discou através do celular da garota. Quando percebeu o que o rapaz estava fazendo, pegou o aparelho de volta das mãos de Min Ho.
- Pronto. Agora você tem o meu número...e eu, o seu. Se precisar de alguma coisa, é só me ligar. – Lee Min Ho falou, pronto para entrar em seu carro. Bruna riu de forma irônica, desaprovando o comportamento do rapaz.
- Eu não precisarei. – deixou escapar. - Não vou ligar.
- Você vai. – ele riu convencido. Sem esperar qualquer outra resposta, Min Ho entrou em seu carro e deu partida, distanciando-se da casa de . Quem ele pensava que era para ter tamanha autoridade com a garota?! agora estava mais confusa do que nunca… e o pior: Lee Min Ho fez com que as chances que a garota tinha de parar de pensar nele diminuíssem completamente.
ele é audacioso ele! amei! <3<3
ResponderExcluircara adorei!espero que tenha capitulo novo logo!
ResponderExcluirsocorro!! eu comecei a ler achando que estava completaaaa, mds cade o resto ???
ResponderExcluirgente cade o final da historia?
ResponderExcluirGente tem série disso?
ResponderExcluirGente não tem continuação??
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